David Hume considera que
todo o conhecimento tem origem na experiência, sendo os dados ou impressões
sensíveis as suas unidades básicas. Hume defende que existem impressões e
ideias que se distinguem quanto ao grau de força e vivacidade. Assim, as
impressões são percepções vivas e mais fortes do que as ideias que são
percepções fracas ou menos vivas. Hume, como empirista, rejeita a
existência das ideias inatas porque as ideias sucedem-se às impressões.
“As impressões são as causas das nossas ideias e não as nossas ideias das
nossas impressões”.
Todas as nossas ideias
derivam de uma impressão sensível. A toda e qualquer ideia tem de corresponder
uma impressão porque as ideias são imagens/cópias das impressões. Neste
sentido, o critério de verdade das ideias consiste na sua correspondência a uma
impressão. É falsa a ideia que não tenha qualquer impressão que lhe
corresponda, disso são exemplo as ideias de “sereia” e “unicórnio”. Do que não
há impressão sensível não há conhecimento (conhecimento de factos).
A ideia de Hume com
seu tratado era introduzir o método experimental de raciocínio nos
assuntos filosóficos. Parte dos filósofos da época que liam a obra não a
compreendiam direito, parte a recusava, e uma parte muito pequena a aceitava. Para
solucionar esse problema, Hume publica em 1748 a obra intitulada “Investigações
Sobre o Entendimento Humano”, que basicamente era um resumo revisto de seu
Tratado.
No entanto, para apresentar sua teoria,
basta nos centrarmos nas Investigações Sobre o Entendimento Humano.
Hume, tal como Descartes, estava
preocupado em entender os fundamentos do conhecimento humano. Todavia, Hume
chega em conclusões bem contrárias as de Descartes. Enquanto Descartes se
enquadra como um racionalista, Hume foi um empirista. Mas primeiro, antes de
explicarmos isso, vejamos sua teoria.
Como funciona nosso processo de entendimento? Essa primeira pergunta nos servirá de condutora para o início dos pensamentos de Hume. De acordo com os termos usados por Hume, nós entendemos o mundo através de duas vias: Ideias e Impressões.
Impressões.
As impressões seriam nossas percepções
mais vívidas e fortes, por exemplo, nossas sensações. Quando eu vejo o notebook
na minha frente, eu tenho a impressão em minha mente desse computador. Essa
impressão é vívida, pois eu estou em contato direto com aquilo que me cria essa
impressão. Eu tenho uma experiência com o objeto da minha impressão. As
impressões podem ser caracterizadas como sensações, que são frutos da
experiência que tenho dos meus sentidos com objetos externos; ou reflexões, que
são frutos da experiência que tenho dos meus sentimentos, ou seja, são objetos
internos a nós.
Ideias.
As ideias, por sua vez, são os objetos
que estão em nossa mente sem que tenhamos naquele momento um contato direto com
as impressões dela. As ideias seriam impressões menos vívidas, mais tênues. Por
exemplo, quando eu penso na bicicleta que eu tinha quando criança, ainda que eu
feche os olhos e quase sinta o vento em meus cabelos ao pedalar aquela
bicicleta, essa impressão que eu tenho é menos vívida que a do meu notebook,
que está agora na minha frente. Os objetos da minha memória (como a bicicleta)
não são objetos presentes nas minhas impressões (como o notebook), esses
objetos da nossa mente seriam as ideias.
Podemos distinguir dois tipos de
ideias: as simples e as complexas. As ideias simples são aquelas que são cópias
diretas de impressões que tivemos. A da bicicleta, por exemplo, é uma ideia
simples, pois eu tive uma impressão com essa bicicleta no passado, mas hoje eu
só tenho a ideia dessa bicicleta, que é a memória dela.
As ideias complexas, por sua vez, são
objetos da nossa imaginação. Pensem em Pégaso, o famoso cavalo alado da
mitologia grega. Nós – e ninguém – teve a impressão direta de um cavalo com asas.
Mas ele é objeto de nossos pensamentos, e entendemos qualquer frase que fala
sobre Pégaso. Por exemplo, conseguimos entender a frase “Pégaso era o cavalo
alado de Belerofonte”. Como podemos entender essa ideia, se nunca tivemos uma
impressão direta com ela? Porque a ideia que temos de Pégaso é fruto da
imaginação, é uma ideia complexa.
Como funciona as conexões entre as
ideias que formamos? Hume afirma que são de três modos:
Semelhança: Quando vemos um retrato,
por exemplo, formamos a ideia desse retrato, mas naturalmente pensamos no
objeto original, que é retratado. Isso acontece por que conectamos a ideia do
retrato com a ideia do objeto retratado através da semelhança.
Contiguidade: Já quando pensamos em um
cômodo de uma casa, como um quarto, nós pensamos também acerca dos outros
cômodos. Nós sempre pensamos que para todo espaço qualquer A existe um espaço
maior B no qual A pertence a B. Isso acontece por que a ideia que temos de A se
conecta com a ideia que formamos de B através da contiguidade.
Causalidade: Quando pensamos em causas
e efeitos, nós pensamos através da conexão de ideias regidas pela causalidade.
Por exemplo, pense quando jogamos uma pedra em uma poça com a água em repouso.
Nós temos a ideia dessa ação de jogar a pedra. Automaticamente nós conectamos
essa ideia ao seu efeito, a perturbação da água que estava em repouso.
Conectamos a ideia do efeito, que é a perturbação da água em repouso, com a
ideia da sua causa, que é atirarmos a pedra na poça d’água. Essas
conexões acontecem em virtude da causalidade.
Hume pensa que através desses três
princípios de conexões, ou associações entre ideias, nós seremos capazes de
explicar como funciona nosso processo de compreensão. Temos assim uma resposta
para a pergunta de como entendemos o mundo. A resposta seria que nosso processo
de entendimento é composto por impressões e ideias, e nós conectamos as ideias
de três modos. Esses modos determinam como entendemos as coisas. Hume dará
especial atenção para o terceiro modo de que conectamos as ideias, o princípio
de causalidade. De acordo com ele, é através desse princípio que fundamentamos
todos os nossos conhecimentos científicos, pois sempre supomos que todo evento
na natureza são causados por alguma coisa, e a ciência pretende descrever e fornecer
as leis que regem a conexão entre esses eventos. Por exemplo, quando soltamos
um objeto temos como efeito ele cair, e a ciência oferece uma lei
(nomeadamente, da gravitação) para descrever como isso acontece.
Como nós justificamos os nossos conhecimentos?
Hume oferece dois tipos de justificações e diz como elas se comportam. De
acordo com sua explicação, todo o conhecimento humano é dividido em relações de
ideias e questões de fato.
Relações de Ideias
O conhecimento baseado em relações de
ideias são aqueles tais como da matemática, geometria e lógica. Trata-se de
conhecimentos a priori que temos, que determinamos sua verdade pela simples
operação do pensamento, independente do que possa existir em qualquer parte do
universo. Por exemplo, sabemos que todo triângulo tem três lados, ou que o
quadrado da hipotenusa de um triângulo é igual a soma dos quadrados de seus
dois lados apenas pelo raciocínio. Não precisamos da experiência para descobrir
que essas afirmações são verdadeiras. Ela é verdadeira indiferente a como o
mundo se comporta.
Questões de fato
O conhecimento baseado em questões de
fato são aqueles das ciências empíricas, ou aqueles que que temos no dia a dia
sobre o mundo. Trata-se de conhecimento a posteriori, que só podemos determinar
sua verdade através da experiência. Ou seja, não podemos saber se afirmações
que são questões de fato são verdadeiras ou falsas apenas pensando sobre elas,
tal com ocorre na matemática por exemplo. Como sabermos se a afirmação de que
Napoleão tinha um cavalo branco, é verdadeira ou falsa? Não podemos determina a
veracidade desta afirmação apenas pensando sobre isso, precisamos de que alguém
tenha visto o cavalo de Napoleão para determinar se a afirmação é verdadeira ou
falsa. Além disso, não incorreríamos em alguma
contradição em supormos a negação de uma questão de fato. Toda afirmação que é
uma questão de fato é contingentemente verdadeira. Ou seja, é verdadeira, mas
poderia ser falsa.
Hume foi um dos principais expoentes do
empirismo, principal corrente filosófica que se opunha ao racionalismo.
Enquanto o racionalismo tentava fundamentar na razão o papel predominante para
aquisição de conhecimentos substanciais acerca da realidade; o empirismo diz
que são nossos sentidos que têm esse papel fundamental. A nossa aquisição
de conhecimento é feita em virtude de conhecermos e determinarmos certos
conceitos, e isso ocorre em virtude de certas experiências que temos. A análise
que Hume oferece do nosso entendimento, com a distinção entre ideias e
impressões, e que todas ideias são cópias de impressões, deixa claro sua
posição empirista. Nossas ideias são determinadas em virtude das experiências
que tivemos. Se não tivéssemos essas experiências, jamais formaríamos ideias,
haja vista que são essas experiências que nos permitem formar impressões, e as
ideias simples são cópias das impressões que temos. Então todo conhecimento que
temos sobre o mundo será, em última instância, baseado nas impressões que
tiramos das experiências que tivemos.
David Hume foi um dos principais
filósofos do período moderno, sintetizando com maestria a tese empirista em sua
análise dos processos do entendimento e apresentando um dos principais
problemas filosóficos que temos hoje: O Problema da Indução.
Referências:
Disponível
em : http://www.universoracionalista.org/hume/. Acessado em 13-10-2016.
Disponível
em: http://filosofianoliceu.blogs.sapo.pt/1797.html. Acessado em 13-19-2016.
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